A pouco mais de um ano comecei a sentir os primeiros sintomas de uma coisa que estava vindo para acabar comigo e me deixar completamente sem chão.
Eu estava caminhando lentamente para a depressão, palavra forte, afinal a gente nunca pensa que vai acontecer com a gente. Mas ninguém está livre desse mal da mente, que pouco a pouco te destrói e tira a sua vontade de viver.
Primeiro veio um desânimo, cansado mental, com momentos de tristezas repentinas. Depois isso foi ficando mais forte, fui perdendo o prazer pelas coisas que eu gostava de fazer, só me sentia bem aos finais de semana quando eu ficava na minha zona de conforto e sofria só de pensar que na segunda feira tudo começaria denovo.
Eu queria desistir de tudo, não conseguia levar mais nada a sério. Sofria de gastrite, e milhares de problemas de saúde que me faziam cair cada dia mais.
Eu não sabia o que eu tinha, parecia normal sentir tudo aquilo nas circunstâncias que eu estava em todo o meu convívio social, mas não era! Eu sem perceber estava me afundando em mim mesma.
Eu perdi a vaidade, não fazia mais sentido pra mim arrumar o meu cabelo, pintar as minhas unhas, ou até mesmo vestir uma roupa legal, se eu nunca iria agradar ninguém, muito menos a mim.
Eu perdi a vontade de ser feliz, sentir prazer, fazer as coisas que eu gostava. Nada fazia sentido, eu não me sentia digna de ser feliz.
Logo chegaram os vestibulares e a minha ansiedade foi a mil. Depois do ENEM, eu que sempre fui uma aluna de 10, comecei a me achar um lixo, que eu nunca conseguiria avançar na minha vida a partir dali.
Então meu estado piorou ainda mais, tudo o que eu tinha construído até ali, para mim não eram mais verdades. Todos os meus sonhos pareciam tão distantes e cinzas. Minha vida não fazia mais sentido.
O aperto no peito que eu sentia as vezes, começou a me consumir, eu não conseguia mais respirar. Era impossível ficar muito tempo fora de casa mesmo que fosse no bairro ao lado, e o tempo que eu ficava era muito ruim e muitas vezes chorando. Eu não tinha nem vergonha de chorar (o que seria muito normal na minha idade), pois era o único meio de tirar aquilo de dentro de mim.
Eu só queria deitar, de preferência na minha cama e dormir. Eu dormia demais, para fugir daquela dor. Umas 18 horas por dia. O sono era tanto que eu não me controlava, dormia assistindo qualquer coisa, em qualquer lugar da minha casa. Pelo menos um pouco antes de sair e quando chegava de algum lugar. Chega a parecer estranho, mas eu não tinha forças.
E como é de se imaginar eu não tinha apetite, não comia nada e quando comia vomitava. Pois o meu corpo não aceitava eu me forçar a comer algo.
Eu morria de medo de comer em público e não conseguir comer meu prato até o final, das pessoas pensarem que eu estou fazendo pouco caso, desperdiçando.
Uma vez fui fazer uma prova na Unesp e era durante o dia inteiro. Então tive que almoçar lá, mas eu comprei o prato e sozinha com aquele sentimento horrível, eu não consegui come-lo. Mas eu estava sendo avaliada, havia diversas pessoas ao meu lado vendo que eu não tinha comido nada, mas eu não conseguia… Doeu tanto ter que levantar e jogar td aquele prato no lixo e aqueles olhares que provavelmente nem eram pra mim, mas que me faziam querer sumir.
Perdi 5 kilos e piorei muito minha gastrite. Minha qualidade de vida só despencou.
Lembro de um sábado, em que eu tinha acabado de chegar do curso de teatro e não comi nada e fui deitar no meu quarto. Minha mãe me disse que ia sair e meu pai ficaria comigo. Mas por algum motivo todos saíram, no caso meu pai achando que eu estava dormindo, apenas desceu para garagem.
Quando eu acordei e me dei conta disso. Veio a crise, o aperto no peito, a dificuldade de respirar. Comecei a chorar muito e gritar de dor . Eu queria que aquela dor acabasse, eu queria deixar de ser um problema pra todo mundo, eu queria muito morrer e parar aquele sofrimento. Eu só não fiz nada por falta de coragem e por pensar em todas as pessoas que estavam ao meu lado, como elas iam sofrer e elas não mereciam, só quem merecia aquilo era eu.
Aquele momento comigo mesma, me fez sentir a pior dor da minha vida, a dor na alma. Ela não passa com remédios, ela não te deixa continuar e se você não lutar contra ela vai acabar morrendo de verdade.
Eu tive a sorte de ter pessoas que me apoiavam e principalmente meus pais, que logo quando perceberam algo estranho, correram atrás de ajuda. Todo mundo sofreu junto comigo, vi diversas vezes as pessoas a minha volta chorarem por não querer me ver assim.
Foi fazendo terapia que recebi o diagnóstico e com esse choque resolvi mudar a minha vida. Pois até o momento eu não me dava conta de que aquilo não era uma tristeza normal e que algo estava muito errado.
Aos poucos fui entendendo os meus problemas, que eu não nasci para agradar ninguém. Redesenhei os meus caminhos e hoje vejo que sai do fundo do poço.
Não quero nunca mais sentir aquilo denovo!Não quero que ninguém sinta.
A Depressão me destruiu, me fez querer morrer e tudo perdeu o sentido. Hoje eu vejo que mesmo depois que ela se foi, deixou cicatrizes enormes, destruindo amizades, minha auto estima e a longo prazo até um relacionamento.
Mas eu sei que a Depressão me deixou mais forte, pois nenhuma dor chega aos pés daquela que eu senti no dia em que me vi sozinha e desejei a própria morte.
Se vocês verem uma pessoa infeliz, depressiva, não a julgue. Ninguém sabe o que ela está sentindo. Não é frescura, sentimentos não são frescura! As vezes aquela pessoa só precisa de um abraço, uma palavra amiga, alguém que lute com ela como fizeram por mim e eu estou estudando para fazer para outras pessoas também.
Vamos lutar contra o suicídio!! E contra esse mal do século que mata pouco a pouco e destrói lares, relacionamentos e o prazer pela vida.
Você não está sozinho!
Mylena Ribeiro